O que realmente está acontecendo com a educação brasileira? A recente análise dos dados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) de 2023, realizada pelo Todos Pela Educação e pelo Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional (Iede), revela um retrato preocupante da aprendizagem dos alunos no país. Com apenas 5,2% dos alunos do 3º ano do ensino médio na rede pública apresentando um nível adequado de aprendizagem em matemática, é fundamental refletir sobre as causas e consequências dessa realidade.
A Crise da Aprendizagem: Raízes e Repercussões
O que pode levar uma nação a um retrocesso educacional tão acentuado? Os dados indicam que, apesar de um leve aumento em comparação a 2021, o nível de aprendizagem em matemática se igualou a índices de uma década atrás, com 5,2% em 2023 contra 6,9% em 2019. Essa estagnação revela um sistema educacional que está falhando em proporcionar uma educação de qualidade, especialmente em contexto público.
Além disso, a comparação com a rede privada é alarmante: 30,5% dos alunos dessa rede atingiram o mesmo nível de aprendizagem. Essa disparidade levanta questões pertinentes sobre as desigualdades estruturais em nossa sociedade. Está claro que a educação de qualidade é um privilégio de poucos.
O relatório do Iede também indica que, entre os alunos do 9º ano do Ensino Fundamental, apenas 16,5% demonstram domínio em matemática. E quando olhamos para o 5º ano, temos um desempenho que, embora melhor, com 43,5% em matemática e 55,1% em língua portuguesa, ainda está aquém do desejável. Esses números chamam a atenção para uma realidade que vai além do simples desempenho acadêmico; eles refletem a desigualdade e a falta de investimentos adequados.
É importante notar que o impacto dessa crise não é homogêneo. As desigualdades educacionais se agravam especialmente entre diferentes grupos raciais e socioeconômicos. Enquanto 61% dos alunos mais ricos atingem aprendizagem adequada em língua portuguesa, apenas 45% dos mais pobres conseguem o mesmo feito. Essa situação se repete em matemática.
Nesse sentido, é essencial discutirmos o papel das políticas públicas e da gestão educacional. O que pode ser feito para inverter esse quadro?
Desigualdade Educacional e Políticas Públicas: Uma Necessidade Urgente
Uma análise mais profunda das desigualdades por raça e renda revela que essas disparidades aumentaram nos últimos dez anos. A diferença de desempenho entre estudantes brancos e pretos/pardos no 9º ano, que era de 9,6 pontos percentuais (p.p.) em 2013, saltou para 14,1 p.p. em 2023. E no Ensino Médio, a distância em língua portuguesa aumentou de 11 para 14 pontos percentuais. Esses dados não podem ser ignorados.
A herança colonial e os sistemas de segregação racial no Brasil contribuíram significativamente para criar um ambiente onde as oportunidades educacionais são desigualmente distribuídas. O sistema educacional atual reflete essas desigualdades históricas, causando uma segregação que perpetua a exclusão e limita o potencial de milhares de jovens.
Ainda que o Todos Pela Educação defenda a urgência de políticas públicas robustas, o tempo é um fator crítico. Não podemos esperar mais uma década para ver mudanças significativas. As reformas educacionais devem ser ágeis e sustentadas, abordando questões estruturais como financiamento, formação de professores e inclusão.
Além disso, a necessidade de um currículo que considere a diversidade cultural brasileira é fundamental. Uma educação que valoriza as diferenças raciais e sociais pode ser um instrumento poderoso para democratizar o acesso ao conhecimento e favorecer a inclusão.
Precisamos de uma abordagem multifacetada que una professores, gestores, organizações da sociedade civil e cidadãos. Juntos, podemos lutar por um futuro educacional mais igualitário.
Reflexões Finais: Caminhos para uma Educação mais Justa
As conclusões das análises realizadas são alarmantes, mas também nos oferecem uma oportunidade de ação. É fundamental que educadores, gestores e a sociedade civil estejam conscientes da situação atual e se mobilizem para promover mudanças significativas.
Por um lado, as instituições educacionais devem intensificar as políticas de inclusão e garantir que todos os estudantes, independentemente de sua origem, tenham acesso a uma educação de qualidade. Por outro lado, a sociedade precisa estar atenta e exigir que os governantes priorizem a educação em suas agendas políticas.
Além disso, o papel da família e da comunidade não pode ser subestimado. A educação deve ser uma responsabilidade coletiva, onde todos se sintam parte do processo. Programas de apoio e engajamento familiar podem ser decisivos para aumentar a motivação e o desempenho dos alunos.
Em suma, a crise educacional no Brasil não pode ser tratada como um problema isolado. Precisamos entender que a qualidade da educação tem impacto direto no desenvolvimento social e econômico do país. Portanto, a luta por uma educação mais justa e igualitária deve ser uma prioridade. E é apenas através da união de esforços que conseguiremos promover uma transformação verdadeira e duradoura.